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Conteúdos de saúde empáticos: vantagens, estratégias e desafios
29 junho 2024, PATRÍCIA RODRIGUES

Um dos aspetos mais importante da comunicação em saúde é divulgar informação rigorosa e baseada em boa evidência. Embora tal seja fundamental, existe outro elemento que pode impactar significativamente o resultado da comunicação: a empatia. A empatia envolve a capacidade de entender e compartilhar os sentimentos do outro. É muitas vezes associada às interações face a face, mas a sua importância na informação escrita não deve ser subestimada. Neste artigo exploro o papel da empatia nos textos educativos e informativos de saúde e refiro estratégias práticas para a incorporar nos conteúdos impressos ou digitais.
Índice
O poder da empatia na comunicação em saúde
De acordo com Arnstein Finset, empatia é a capacidade de observar as emoções nos outros, sentir e responder a essas emoções. Implica nos colocarmos no lugar do outro para compreender as suas preocupações e necessidades através da sua perceção e sensibilidade.
Nos cuidados de saúde, a empatia permite que os profissionais entendam a experiência dos doentes e familiares, vejam o mundo a partir dessa perspetiva e respondam com compaixão. Neste sentido e contexto, a empatia procura integrar as diferentes dimensões da experiência da saúde e da doença: a dimensão biológica, emocional e social.
Vários estudos demonstraram que a comunicação empática por parte dos profissionais de saúde aumenta a compreensão das informações, a participação nos cuidados, os resultados de saúde e a satisfação do doente. Por exemplo, um trabalho do Centro Hospitalar do Porto mostrou que uma interação empática e centrada na pessoa, antes de uma cirurgia, reduz a ansiedade e dor, assim como melhora a recuperação após a cirurgia e a satisfação com a informação recebida, em comparação com o grupo controlo.
SAIBA MAIS NO ARTIGO: O papel da empatia na comunicação em saúde
As vantagens da empatia na informação de saúde
No que respeita à informação escrita, a empatia é a capacidade de compreender e partilhar os sentimentos e pensamentos dos leitores, face a uma determinada situação e num determinado contexto pessoal, familiar e social.
Quando os textos de saúde são escritos de forma empática, eles reconhecem e valorizam as preocupações dos leitores. Desta forma, o produtor de conteúdos consegue criar uma conexão emocional com o leitor, o que aumenta o interesse pelo texto e a confiança na informação. Por outro lado, ao abordar diretamente as preocupações e medos dos leitores, a escrita empática pode até aliviar a ansiedade associada às questões de saúde — compreendendo que do outro lado está alguém que sabe como se sente, o leitor ficará mais tranquilo.
Outra vantagem de envolver as emoções dos leitores tem a ver com a aprendizagem: acrescentar emoções aos factos científicos solicita as habilidades intelectuais e emocionais, podendo facilitar a compreensão e a memorização das informações.
Além disso, um texto escrito com empatia considera as dificuldades que o público não especialista enfrenta perante informação de saúde complexa e alarmante. Por isso, textos de saúde que incorporam empatia tendem a ser mais simples e entendíveis, contribuindo para melhorar a compreensão da informação e a literacia em saúde dos leitores. Também por esta via estaremos a reduzir a ansiedade associada ao esforço necessário para entender uma informação complexa — e ao receio de não o conseguir fazer.
Por fim, a escrita empática fomenta a participação informada nas decisões de saúde, pois quando as pessoas compreendem claramente a sua situação e opções serão mais capazes de se envolverem ativamente no cuidado.
Os desafios de incorporar a empatia nos textos informativos de saúde
Existem vários desafios quando se trata de fornecer informações de saúde escritas com empatia. Por um lado, existem as limitações de tempo e de recursos. Não raramente, os conteúdos de saúde são redigidos por profissionais de saúde que têm muitas tarefas para executar, entre as quais, e acima de tudo, acompanhar e cuidar dos utentes dos serviços de saúde. Otimizar o texto com empatia pode exigir alguns minutos extra, o que nem sempre é possível.
Por outro lado, os leitores dos materiais de saúde são diversos, com diferentes níveis de literacia, preocupações e necessidades. Considerar as necessidades de vários públicos pode ser desafiador, particularmente quando não existe o hábito ou o conhecimento de como o fazer. Nesse sentido, a falta de formação em empatia, assim como o foco excessivo na dimensão biológica da saúde e da doença, leva a dificuldade ou resistência em adotar uma comunicação mais empática.
Para terminar, os nossos preconceitos limitam a prestação de informação com imparcialidade e empatia. De certa forma, esta questão também está relacionada com a falta de sensibilidade cultural em relação a normas culturais de determinadas minorias e das várias regiões de cada país.
Para superar estas barreiras, as organizações de saúde podem investir em formação nesta área, assim como fornecer orientações, listas de verificação e documentos-modelo que facilitem a produção de conteúdos de saúde empáticos. Além disso, desenvolver os conteúdos em colaboração com representantes dos públicos-alvo, assim como ouvir a sua opinião quanto aos materiais em circulação, são opções adicionais para melhorar os textos informativos e educativos de saúde.
Numa visão mais abrangente, para que a empatia esteja presente nas interações interpessoais e nos textos educativos, é necessário que se a empatia seja um valor basilar da organização de saúde.
SAIBA MAIS NO ARTIGO: Comunicação centrada na pessoa: a essência do cuidado em saúde
5 estratégias para escrever conteúdos de saúde empáticos
Seguem-se algumas estratégias de empatia que humanizam os textos informativos e educativos de saúde.
1. Compreender a experiência dos leitores
Conteúdos empáticos têm em consideração as características dos leitores, o seu estado emocional e o contexto em que vão receber a informação. Assim, é importante saber:
- Quem vai ler o texto?
- Que dúvidas tem?
- O que está a acontecer na sua vida para procurar ou encontrar esta informação?
- Como se sente em relação a essa situação?
- O que precisa fazer?
- Que objetivos tem?
Estas são exemplos de perguntas que ajudarão a conhecer e compreender os leitores. Uma ferramenta que também pode ajudar nesta tarefa é o mapa da empatia. Trata-se de um recurso bastante utilizado por empresas com o objetivo de conhecer melhor o cliente, mas também tem sido usado em investigação na área da comunicação em saúde.
2. Validar as emoções dos leitores
Partindo do conhecimento obtido no ponto anterior, é também importante mostrar aos leitores que sabe como eles e elas se sentem. Frases que descrevem as dificuldades e a ansiedades dos leitores podem fazer uma grande diferença.
Por exemplo, em vez de apenas listar os efeitos adversos de um medicamento, um texto empático incluirá a vivência desse efeito adverso. Assim, em vez de escrever: “Este medicamento causa boca seca. Para aliviar este sintoma faça ABC.”; poderá escrever: “Este medicamento causa boca seca. Embora algumas pessoas considerem este sintoma bastante incómodo, sentem melhorias ao fazer ABC.”
Quando fornece informação sobre uma doença também pode aplicar esta estratégia, escrevendo, por exemplo, “é normal que se sinta assustado/a com este diagnóstico” ou “é normal que se sinta assoberbado com a quantidade de informação que está a receber”.
3. Adotar um ponto de vista holístico
Uma visão abrangente do indivíduo contempla os aspetos emocionais e sociais, além dos fatores fisiológicos.
Por exemplo, sabemos que a obesidade resulta de uma multitude de fatores que vão além do balanço entre as calorias ingeridas e despendidas. De facto, este é um caso onde as dimensões sociais e emocionais podem ser tão ou mais importantes do que os aspetos fisiológicos. Desconsiderar essas influências torna o texto pouco empático; em oposição, reconhecê-las ajuda a que os leitores se sintam mais compreendidos e menos estigmatizados.
4. Preferir linguagem simples e direta
Se as pessoas estão perante um problema de saúde, ou simplesmente querem aprender sobre um tema saúde, por que motivo havemos de tornar o processo (ainda) mais difícil? Usar uma linguagem simples e direta é uma das formas mais eficazes de demonstrar empatia pelo leitor. Isso envolve, por exemplo, evitar termos técnicos, explicar conceitos complexos e mostrar a aplicação destes conceitos em contextos com os quais os leitores se identificam. A clareza na escrita não só melhora a compreensão, como também mostra respeito e consideração pelo leitor.
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5. Use um tom encorajador
A informação não tem de ser apenas uma lista de factos científicos — também pode reconfortar e encorajar os leitores. Isto pode ser feito de muitas formas, por exemplo: valorizar os aspetos positivos, mostrar que é possível superar os desafios (quem sabe até partilhar histórias que quem o fez) e sublinhar que os profissionais de saúde estão disponíveis para ajudar.
Imagine um texto sobre depressão que logo no início diga: “Compreendemos que pode ser difícil viver com depressão. Neste guia encontra orientações para transformar as tempestades em momentos de calma. Se precisar, peça-nos ajuda.” É uma frase empática que oferece conforto e força, concorda?
Conclusão
A empatia é uma ferramenta poderosa na comunicação em saúde, sendo especialmente importante na redação de textos informativos e educativos de saúde. Exemplos de estratégias de empatia incluem compreender a sua audiência, validar as emoções dos leitores, adotar um ponto de vista holístico, preferir linguagem simples e usar um tom encorajador. Embora tenha os seus desafios, a incorporação da empatia na escrita contribui para um cuidado mais humanizado e centrado na pessoa.
If we are to move in the direction of a more empathic society and a more compassionate world, it is clear that working to enhance our native capacities to empathize is critical to strengthening individual, community, national, and international bonds.
Helen Riess
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