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88 termos de saúde traduzidos para linguagem clara

Publicação: 26 fevereiro 2021 | Atualização: 11 julho 2024

Créditos da imagem: Pexels
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Veja se sabe o que isto quer dizer: 健康的生活方式

Ficou com os olhos em bico?

É assim que ficam muitas pessoas quando leem ou ouvem conteúdos de saúde que são disponibilizados para o público: como se estivessem perante uma língua estrangeira. Frases complexas, termos científicos que não fazem parte do vocabulário diário e excesso de informação são algumas razões apontadas por múltiplos estudos que se debruçaram neste assunto.

Para contornar esta realidade — que contribui para acentuar as desigualdades em saúde — as Precauções Universais de Literacia em Saúde, formuladas pela Agency for Healthcare Research and Quality (AHRQ), recomendam a utilização de linguagem simples em todas as comunicações com os doentes e público em geral. Tal passa por ter alguns cuidados em relação aos termos técnicos e científicos em que a área da saúde é rica.

Orientada por esta precaução universal, em 2020 criei a rubrica “Como falar sobre saúde” no meu Instagram. Durante dois anos partilhei regularmente a “tradução” de um termo ou expressão usada em saúde para uma terminologia comum e mais percetível.  Este trabalho juntou o meu conhecimento em linguagem clara (plain language), a minha formação de base em Ciências Farmacêuticas e a vontade de apresentar alternativas à complexa comunicação tradicional.

Foi um exercício muito interessante e, confesso, nem sempre fácil. Parece haver uma força que puxa em direção aos termos dos livros e artigos científicos… diria que é a força do hábito.  Mas é necessário desconstruir a ideia de que os profissionais de saúde devem comunicar usando o jargão médico. Se isso não nos ajuda a chegar às pessoas e a entregar informação fácil de compreender, para quê insistir?

Este foi também um exercício de empatia: olhar para a informação do ponto de vista de quem a recebe ajuda a compreender os obstáculos que as pessoas encontram, tanto no acesso à informação, como na sua compreensão e utilização. Como já sabemos, a empatia é um tremendo facilitador da comunicação.

Ao longo destes anos de caminho encontrei alguns termos mais difíceis de explicar do que outros. Por exemplo, “imunidade de grupo” é um conceito cuja definição pede palavras como “anticorpos”, “imune” e outras que por si só exigem uma explicação isolada. Aqui o desafio está em explicar o jargão sem usar mais jargão, ou seja, em usar sempre linguagem clara, simples e concisa.

Feita esta introdução, aqui ficam os 88 termos de saúde que descodifiquei, muitas vezes inspirada por notícias que ouvi ou conversas que tive. Encontrará também alguns exemplos de frases com o termo técnico (opção 1) e a sua alternativa clara (opção 2). A lista está dividida por temas, aos quais pode aceder usando os botões abaixo, caso não queria passar por todo o artigo.

 

Termos médicos em linguagem clara

  • Doença aguda: doença que aparece de repente, dura pouco tempo e desaparece. Exemplo: gripe.
  • Doença crónica: doença que dura muito tempo e que pode não desaparecer completamente. Os sintomas podem melhorar ou piorar ao longo do tempo.  Exemplo: diabetes.
  • Comorbilidade: presença de vários problemas ou condições de saúde na mesma pessoa.
  • Disfunção: problema.
  • Monitorizar: acompanhar as mudanças, ver se há alterações, verificar se alguma coisa mudou.
  • Rastreio: exame médico ou teste que avalia se uma pessoa tem uma doença.

Qual destas frases funcionaria melhor para promover a participação no rastreio do cancro do colo do útero?

Opção 1:
“O cancro do colo do útero pode ser prevenido com rastreios regulares.”

Opção 2:
“Fazer testes regulares para encontrar o cancro do colo do útero permite detetar a doença mais cedo.”

  • Sistema imunitário: defesas naturais que o nosso corpo tem e que nos protegem contra micróbios e algumas doenças.
  • Antigénio: substância estranha que o nosso corpo tenta eliminar produzindo anticorpos. Exemplos: vírus, bactérias, substâncias químicas, pólen.
  • Anticorpos: substância que o nosso corpo produz para combater infeções ou eliminar outras substâncias estranhas.
  • Imunidade de grupo (versão 1): se muitas pessoas de um grupo têm defesas contra uma doença, essa doença vai espalhar-se menos. Isso protege aqueles que ainda não têm defesas.
  • Imunidade de grupo (versão 2): muitas pessoas de um grupo estão imunes a uma doença porque já tiveram essa doença ou porque foram vacinadas. Assim será menos provável que a doença se espalhe por quem ainda não ficou doente.
  • Imunização: proteção de pessoas ou animais contra uma doença, normalmente através de uma vacina; vacinação; ser vacinado(a).

Abaixo dois títulos noticiosos (fictícios). Qual dos dois funcionará melhor para a população em geral?

Notícia 1: “Imunização atinge 20% da população”

Notícia 2: “Vacinação atinge 20% da população”

  • Comportamentos preventivos: coisas que pode fazer para evitar ficar doente.
  • Fator de risco: aquilo que aumenta a possibilidade de uma pessoa ficar doente, ferida ou morrer. Um fator de risco pode ser uma característica da pessoa, como a idade, ou uma situação, como a poluição do ar.

Vamos a mais um exemplo. Qual das frases funcionará melhor para aumentar a perceção do risco do tabagismo?

Opção 1:
“O tabagismo é o fator de risco mais importante no cancro do pulmão.”

Opção 2:
“Fumar é a principal razão para ter cancro do pulmão.”

  • Exposição cumulativa: exposição ao longo do tempo cujo efeito vai aumentando.

No campo da comunicação dos riscos os exemplos são ubíquos. Aqui fica um que encontrei numa publicação dirigida ao público, com a respetiva proposta simplificada. 

Opção 1:
A exposição solar crónica cumulativa aumenta o risco de cancro de pele.

Opção 2:
Quanto mais sol apanha ao longo da vida, maior o seu risco de cancro de pele.

  • Profilaxia: aquilo que podemos fazer para evitar uma doença, medidas de prevenção.

Conhecer a origem das palavras (etimologia) permite compreender melhor o seu significado.

Profilaxia vem do grego do grego prophýlaxis, que significa “cautela”.

Acautelar, prevenir e evitar são palavras relacionadas com profilaxia — por vezes referida como medidas profiláticas ou de profilaxia — e que podem ser usadas em sua substituição.

  • Diagnóstico: encontrar uma doença ou problema de saúde.
  • Prognóstico: opinião do seu médico sobre a forma como a doença pode evoluir (melhorar, piorar ou ficar como está).
  • Diagnóstico precoce: encontrar a doença quando está no início e pode ser mais fácil de tratar.
  • Tratamento de ambulatório: tratamento em que o doente vai para casa no mesmo dia. Exemplo: cirurgia de ambulatório.

SINTOMAS

  • Alopécia: queda de cabelo.

  • Amenorreia: não ter menstruação.

  • Amnésia: perda de memória, esquecer as coisas com facilidade.

  • Anorexia: perda de apetite.

  • Anosmia: perda do olfato, deixar de sentir cheiros.

  • Ansiedade: medo, preocupação, inquietação.

  • Artralgia: dor nas articulações.

  • Astenia: fadiga, cansaço, falta de energia.


DOENÇAS CARDIOVASCULARES

A maior parte das definições seguintes, sobre doenças cardiovasculares, pode ser encontrada no site da Direção Geral da Saúde dedicado ao Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, uma boa transposição para a linguagem clara.

  • Cardiovascular: relacionado com o coração e a circulação do sangue.
  • Doenças cérebro-cardiovasculares: grupo de doenças do coração e dos vasos sanguíneos.
  • Doença cerebrovascular: doença dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro.

  • Doença cardíaca coronária: doença dos vasos sanguíneos que irrigam o músculo cardíaco.

  • Doença reumática do coração: danos no músculo do coração e válvulas cardíacas de febre reumática, causada por bactérias.

  • Doença arterial periférica: doença dos vasos sanguíneos que irrigam os braços e pernas.

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Termos farmacêuticos e sobre medicamento em linguagem clara

  • Fármaco: medicamento.
  • Reação adversa a um medicamento: efeito negativo e não desejável que pode sentir após tomar um medicamento.
  • Placebo: medicamento que não trata nenhuma doença.
  • Resistência aos antimicrobianos: Os microorganismos podem criar estratégias que destroem o antimicrobiano ou impedem-no atuar de forma correta. Por isso o medicamento deixa de funcionar e a infeção não desaparece — isto é a resistência aos antimicrobianos.


VIAS DE ADMINISTRAÇÃO

  • Via de administração: forma como aplica ou usa o medicamento para que entre no organismo.
  • Uso tópico: produto para usar na pele. Exemplo: pomada.

  • Sistema transdérmico: adesivo que é colocado na pele e que tem uma quantidade certa de medicamento. Exemplo: pensos ou adesivos com nicotina.

  • Via inalatória: medicamento que é dado através da respiração. Exemplo: bomba para a asma.

  • Via parentérica: medicamento que é colocado dentro do organismo, normalmente por injeção.

 

CLASSES DE MEDICAMENTOS

Os folhetos informativos (vulgo “bula”) têm como objetivo informar o utilizador do medicamento. No entanto, estão escritos em linguagem técnica que não é acessível a todos. A começar pela explicação sobre a ação do medicamento. De seguida encontra alguns exemplos, e suas alternativas simples, do capítulo “O que é e para que é usado” do folheto informativo.

Bem sei que existem muitas exigências legais e regulamentação apertada que a indústria farmacêutica tem de respeitar. O objetivo de tais obrigações é garantir a segurança e eficácia do medicamento. Porém, utilizando linguagem complexa e rebuscada, estaremos mesmo a garantir o bom uso de medicamento e a segurança do doente? É um assunto de reflexão que lhe deixo.

  • Anti-hipertensor: medicamento para baixar a pressão do sangue.

  • Analgésico: medicamento para tratar a dor.

  • Broncodilatador:  medicamento que ajuda a respirar melhor.

  • Contracetivo hormonal: medicamento para não engravidar; pílula.

  • Ansiolítico: medicamento que reduz a ansiedade; medicamento que ajuda a acalmar.

  • Hipocolesterolemiante: medicamento para baixar o colesterol no sangue; medicamento para baixar a gordura do sangue.

  • Anticoagulante: medicamento que evita a formação de coágulos no sangue; medicamento que ajuda o sangue a manter-se líquido.

  • Vacinas: medicamentos que nos protegem contra algumas doenças, como a gripe ou o tétano. A maior parte das vacinas são injeções, mas outras podem ser dadas pelo nariz ou pela boca.

Podemos explicar o que é uma vacina vacina com pouca, alguma, ou imensa complexidade. O objetivo aqui foi simplificar bastante para tornar a definição compreensível a todos, em particular às pessoas com menos literacia em saúde.

Por vezes temos de encontrar soluções de compromisso e aceitar que reduzir a complexidade pode deixar cair alguma informação que consideramos importante.

No entanto, “informação importante” para o especialista pode bem ser “informação desnecessária” para a audiência. Assim, é importante conhecer e compreender a nossa audiência e ter em conta o contexto em que a comunicação acontece.

Neste caso defini vacina dizendo o que ela faz e como é dada, duas informações práticas que interessam ao público.

ENSAIOS CLÍNICOS

  • Ensaio clínico:  estudo do novo medicamento em pessoas.
  • Estudo de fase três: estudo que tem como objetivo confirmar que o medicamento tem o efeito desejado.
  • Estudo controlado por placebo: num estudo deste tipo algumas pessoas tomam o medicamento novo e outras tomam placebo (medicamento que não trata nenhuma doença) para confirmar que o efeito do medicamento é real.
  • Randomizado: num estudo randomizado existem vários tratamentos em estudo. Por isso, a equipa de investigação divide os participantes em diferentes grupos que recebem diferentes tratamentos. Cada participante entra num grupo de tratamento de forma aleatória, ou seja, “à sorte”. Isto chama-se randomização.
  • Estudo duplamente cego: num estudo duplamente cego a equipa de investigação (médico, enfermeiro, farmacêutico) e os participantes do estudo não sabem qual é o tratamento que o participante vai receber. Esta informação só é conhecida no final do estudo.

 

Termos utilizados no contexto da COVID19 em linguagem clara

  • Equipamento de proteção individual: objeto que usa ou veste e que foi desenhado para evitar que se magoe, fique doente ou espalhe uma doença. Exemplos: luvas, touca, bata, óculos, máscaras.
  • Ficar em isolamento: ficar longe de outras pessoas caso tenha uma doença que se espalha com facilidade de pessoa para pessoa. Assim mais ninguém fica doente.
  • Distanciamento físico: evitar o contacto próximo com outras pessoas; evitar locais com muitas pessoas; manter uma distância de pelo menos dois metros de outras pessoas, que é a distância de dois braços.

Neste dicionário colaborativo COVID-19 pode encontrar outros termos que se tornaram  mais frequentes durante a pandemia.

 

Termos de epidemiologia em linguagem clara

Para além dos termos anteriores, a situação pandémica trouxe também a epidemiologia (e os epidemiologistas) para ribalta. De seguida encontra a explicação simples de algumas expressões desta disciplina. Por vezes incluí um exemplo pois colocar um conceito abstrato num contexto do dia a dia ajuda à sua compreensão.

  • Epidemiologia: estudo da forma como uma doença se distribui ou espalha numa população.
  • Incidência: número de novos casos de doença numa população, num determinado período de tempo. Exemplo: Durante o mês de outubro, foram diagnosticados 100 novos casos de gripe  na escola ABC.
  • Prevalência: número de pessoas com uma determinada doença ou condição de saúde, numa população, num período de tempo. Exemplo: No mês de outubro, ocorreram 150 casos de gripe na escola ABC (100 casos novos e 50 casos que tinham sido detetados antes do mês de outubro).
  • Taxa de mortalidade (opção 1): proporção de mortes numa determinada população, por uma causa específica ou por qualquer causa, num determinado período de tempo.
  • Taxa de mortalidade (opção 2): número de mortes numa determinada população, num determinado período de tempo.
  •  Taxa de letalidade (opção 1): proporção de mortes na população que tem a doença.
  • Taxa de letalidade (opção 2): número de mortes na população que tem a doença.

 

Palavras (pouco) comuns em linguagem clara

Utilizar linguagem acessível em saúde significa não só eliminar o jargão, mas também as palavras menos conhecidas. Deixo abaixo algumas sugestões a este respeito em formato antes — depois, sendo esta última a opção a privilegiar.

VERBOS

  • Descontinuar — parar
  • Aderir — seguir as regras
  • Ajustar — mudar
  • Administrar — dar, tomar conta de
  • Adotar — fazer, ter
  • Atenuar — diminuir, ficar mais fraco
  • Consumir — comer, beber
  • Detetar — encontrar
  • Exacerbar — piorar, ficar pior
  •  Facilitar — ajudar
  • Prescrever (um medicamento) — receitar
  • Prevenir — evitar
  • Proceder  fazer
  • Referenciar — enviar a outro profissional de saúde

Neste capítulo dos verbos vale a pena fazer uma ressalva. Os verbos facilitam a compreensão ao transmitirem a informação de forma clara e objetiva. Mas é necessário usá-los bem. Acima vimos alguns exemplos de verbos que podem ser substituídos por opções mais comuns. Agora deixo alguns exemplos de expressões que podem ser substituídas por verbos.

  • Efetuar a avaliação de — avaliar
  • Proceder ao exame de — examinar
  • Efetuar o cálculo de — calcular
  • Fazer a mobilização de — mobilizar
  • Realizar uma investigação — investigar, estudar

ADVÉRBIOS

Alguns advérbios podem atrapalhar a compreensão, tanto no discurso escrito como no discurso falado. Assim, devemos procurar alternativas mais acessíveis, tais como as indicadas abaixo.

  • Recentemente — há pouco tempo
  • Seguidamente — depois
  • Nomeadamente — por exemplo
  • Consequentemente — por isso, por causa disso
  • Por conseguinte — por isso, por causa disso
  • Inclusivamente — também

 “Para informar as pessoas e ajudá-las a tomar melhores decisões de saúde, é importante fornecer informação que elas consigam entender e aplicar.

Patrícia Rodrigues

AUTORA:

Patrícia Rodrigues, Medical Writing & Health Communication
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